quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Clarice Lispector

"A realidade é uma matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu Esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só me PODERÁ ser dado Através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, que é obtenho o que ela não conseguiu.




Se eu tivesse coragem de abandonar ... de abandonar meus sentimentos? Se eu tivesse coragem de abandonar a esperança ... A Paixão Segundo g.h, Clarice Lispector
 
 

"Não quero ter um terrível Limitação de quem vive apenas do que é Possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada".








"Renda-se como eu me rendi. Mergulhe não que você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte, sem querer uma resposta, como estou perguntando. Não se preocupe em" entender ". Viver ultrapassa todo o entendimento."






"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando" ...






"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada ... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro ..."






"Até cortar os Próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso Edifício inteiro".






"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar . Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão No Meio de outros. "






"Eu sou à esquerda de quem entra. E estremece em mim o mundo. Caleidoscópica (...) Sou: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.Sou um coração batendo no mundo."






É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto "Aceitar-me plenamente?: Meu coração está espantado. É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue" (Um Sopro de Vida)






"... Respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver."






... "Pegue para você o que lhe pertence, eo que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma."






"A harmonia secreta da desarmonia. Quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz."






... "Que minha solidão me sirva de companhia.


que eu tenha uma coragem de me Enfrentar.


que eu saiba ficar com o nada


e mesmo assim me sentir


como se estivesse plena de tudo. "






"... há impossibilidade de ser além do que se é --


No entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,


sou mais do que eu, quase normalmente --


tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação


de meu começo ......


a única verdade é que vivo.


Sinceramente, eu vivo.


Quem sou?


Bem, isso já é demais ...."






"E se me achar esquisita,


Respeite também.


até eu fui obrigada a me Respeitar ".






"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que uma presença é pouco: Quer-se absorve a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. "






"É quase impossível Evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é Capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo". (Das Vantagens de Ser Bobo)






"Chegando em casa não comecei a ler.


Fingia que não o tinha,


só para depois ter o susto de ter o.


Não era mais uma menina com um livro:


era uma mulher com seu amante. "






"...


Se uma pessoa perguntar durante meia hora "eu", essa pessoa se esquece quem é. Outras enlouquecer también. É mais seguro não fazer jamais perguntas - porque nunca se atinge o âmago de uma resposta. E porque uma resposta traz em si outra pergunta. "






"Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade Através de muito trabalho."






"Não se pode falar de silêncio como se fala de neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: Sentiu o silêncio deta noite? Quem ouviu não diz."






"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato ...


Ou toca, ou não toca ".






"O que É um espelho?


é o único material inventado que é natural.


Quem olha um espelho, quem consegue vê-lo sem se ver,


Quem entende que uma sua profundidade Consiste em ele ser vazio


...... esse alguém percebeu o seu mistério de coisa. "






"Sou uma filha da natureza:


quero pegar, sentir, tocar, ser.


E tudo isso já faz parte de um todo,


de um mistério.


Sou uma só ... Sou um ser.


E deixo que você seja. Isso lhe assusta?


Creio que sim. Mas vale a pena.


Mesmo que doa. Dói só no começo. "






"Não sei separar os fatos de mim,


e daí uma dificuldade de qualquer precisão,


Quando penso passado não ".






"Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que era eu, não me decidia por qual de mim, toda é que nao podia ser; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para Todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo. Na minha pressa eu crescia sem saber pra onde. "






"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos,


coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.


De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura,


E para que eu nascera sem nojo da dor.


Para que te servem essas unhas longas?


Para te ARRANHAR de morte


E para arrancar os teus espinhos mortais,


responde o lobo do homem.


Para que te serve essa cruel boca de fome?


Para te morder e para soprar um fim


de meu amor que eu não te doa demais,


Já que tenho que te doer,


eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.


Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?


Para ficarmos de mãos dadas,


pois preciso tanto tanto, tanto --


uivaram os lobos e intimidados Olharam


AS PRÓPRIAS garras antes de se aconchegarem


um no outro para amar e dormir. "






"Mas nem sempre é Necessário Tornar-se forte.


Temos nossas fraquezas respeiar que.


Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza


legítima à qual temos direito.


Elas correm devagar e quando passam pelos


lábios sente-se aquele gosto pouco salgado,


produto de nossa DOR mais profunda.






"Amanheci em cólera. Não, não, O Mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. O amor e, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que PRECISAM enguias. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece ... "






"Inútil querer me Classificar, eu simplesmente escapulo não deixando. Gênero não me pega mais."










"Escrever é procurar entender, é procurar Reproduzir o irreproduzível,


é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. "










"Tão secreta é a verdadeira vida, que nem a mim, que morro dela, me pode ser confiada a senha, morro sem saber de quê. E o segredo é tal que, somente se a missão


Cumprir a se chegar é que, por um relance, percebo que nasci incumbida


- Toda vida é uma missão secreta ".










"Só se sente nos ouvidos


o próprio coração ....


.... Pois nós não fomos feitos


senão para o pequeno silêncio. "










"Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela


Só tenho uma chance de fazer o que quero.


Tenho felicidade o bastante para faze-la doce


Dificuldades para faze-la forte,


Tristeza para faze-la e humana


esperança suficiente para fazê-la feliz.


As pessoas mais felizes não tem as coisas melhores


elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos "










"Há um silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem Sido uma fonte de minhas palavras."










"Não posso perder um minuto do tempo


que faz minha vida.


Amar os outros é a única salvação


individual que conheço:


Ninguém estará perdido se der amor e


Às vezes troca Receber em amor. "





"Escuta: eu te deixo ser. Fala-me ser, então."





Várias "Tenho caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".





"Tudo tem que ser para bem de leve

eu não me assustar e não assustar os

que amo.

Pedem-me pouco, pedem-me quase nada.

O terrível é que eu tenho muito para dar

E tenho que engolir esse ainda e muito

por cima dizer com delicadeza: obrigada

por receberem de mim um pouquinho de mim. "





Espertos "Os ganham dos outros, em compensação os bobos ganham a vida."





"Fico com medo. Mas o coração bate.

O amor inexplicável faz o coração

bater mais depressa.

A única garantia é que eu nasci.

Tu és uma forma de ser eu,

e eu uma forma de ser te:

Eis os limites de Possibilidade minha. "





"Sou Como vc me vê

Posso ser leve como uma brisa,

ou forte como uma ventania,

Depende de quando, e como vc me vê passar "!





Assim como o poeta se expande e se dissolve no mundo e na natureza à maneira do Criador, Clarice, não tem medo da incompletude.

Eu estava agora tão maior que já não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. Mais perceptível nas minhas mais últimas montanhas e nos meus mais remotos rios. (...) como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro. (LISPECTOR, 1998)



Quando penso em discutir as relações entre mulher, feminilidade e posição feminina, meu objetivo é ampliar as possibilidades de cura que se estabelecem, particularmente para as mulheres, a partir da clínica psicanalítica – que me parece preocupada, desde Freud, em fixar esses três elementos propondo para as mulheres uma faixa muito estreita a partir da qual lhe seja possível constituir uma narrativa pessoal, um estilo, um destino. (Kehl,2008)




“Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.” (Lispector, 1986. p.7)








−−−−−− estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização, pois não quero me confirmar no que vivi – na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. (Lispector, 1986. p.7)








Quando o homem, em sua história, percebeu o silêncio como significação, criou a linguagem para retê-lo. O ato de falar é o de separar, distinguir paradoxalmente vislumbrar o silêncio e evitá-lo. Este gesto disciplina o significar, pois já é um projeto de sedentarização do sentindo. A linguagem estabiliza o movimento dos sentidos. No silêncio, ao contrário, ele estabeleceu o espaço da linguagem (Orlandi, 2002: 29).





Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização? (Lispector, 1998)



O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas, porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo?Perder-se significa ir achando e nem saber o que for fazer do que se for achando (Lispector, 1998)



Esse esforço que farei agora por deixar à tona um sentindo, qualquer que seja, esse esforço seria facilitado se eu fingisse escrever para alguém. (Lispector, 1998



Eu pensara que encontrar seria fértil e úmido como vales fluviais. Não contava que fosse um grande desamparo.(...) Entregar-me ao que não entendo será por-me à beira do nada. (Clarice, 1998 : 17, 18)



Vi, sim. Vi, e me assutei com a verdade bruta de um mundo cujo maior horror é que ele é tão vivo que, para admitir que estou tão viva quanto ele – e minha descoberta é que estou tão viva quanto ele – terei que alçar minha consciência de vida exterior a um ponto de crime contra a minha vida pessoal(Lispector, 1998 : 22)






O que parece falta de sentido é o sentido. Todo momento de “falta de sentido é exatamente a assustadora certeza de que ali há o sentido, e que não ali há o sentido, e que não somente eu não alcanço, como não quero porque não tenho garantias .(Lispector,1938 :35)


Eu fizera o ato proibido de tocar no que é imundo.(...) Para cosntruir uma alma possível – uma alma cuja a cabeça Não devore a própria cauda – a lei manda que só se fique com o é disfarçadamente vivo. A lei manda que, quem comer do imundo, que coma sem saber. Pois quem comer do i-mundo sabendo que é imundo – também saberá que o imundo não é imundo.(Lispetor, 1998, 73)




Sou tão maior do que aquilo que eu chamava de “eu”, que somente tendo a vida do mundo, eu me teria. Toda parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence – é aquela que toca minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente próxima. Sou aquilo que em mim não é.(Lispector, 1998 : 123)



Estou caminhando em direção ao caminho inverso. Caminho em direção à destruição do que construí, caminho para despersonalização.(...) A despersonalização com a destituição do individual inútil – a perda de tudo o que se possa perder e, ainda assim, ser. Pouco a pouco tirar de si, com o que se livra da própria pele, as características. Tudo o que me caracteriza é apenas o modo como sou mais facilmente visível aos outros e como termino sendo superficialmente reconhecível por mim. . Assim como houve o momento em que vi a barata de todas as baratas, assim quero de mim mesma encontrar em mim a mulher de todas as mulheres.(Lispector,1998 : 173, 174)


Eu não queria reabrir os olhos, não queria continuar a ver. Os regulamentos e as leis, era preciso não esquecê-los, é preciso não esquecer que sem os regulamentos e as leis também não haverá a ordem, era preciso não esquecê-los e defendê-los para me defender. Mas é que eu já não podia mais me amarrar.(Clarice, 1998: 43)


A passagem estreita fora pela barata difícil, e eu me havia esgueirado com nojo através daquele corpo de cascas e lama. E terminara, também eu toda imunda, por desembocar através dela para o meu passado que era o meu contínuo presente e o meu futuro contínuo - e que hoje e sempre está na parede, e minhas quinze milhões de filhas, desde então até eu, também lá estavam. Minha vida fora tão contínua quanto a morte. A vida é tão contínua que nós a dividimos em etapas, e a uma delas chamamos de morte. Eu sempre estivera em vida, pouco importa que não eu propriamente dita, não isso a que convencionei chamar de eu. Sempre estive em vida.(Clarice, 1998: 48)




Pois agora entendo que aquilo que eu começara a sentir já era a alegria, o que eu ainda não reconhecer a nem entendera. No meu mudo pedido de socorro, eu estava lutando era contra uma vaga primeira alegria que eu não queria perceber em mim porque, mesmo vaga, já era horrível: era uma alegria sem redenção, não sei te explicar, mas era uma alegria sem a esperança.(CLARICE, 1998: 53)




No desmoronamento, toneladas caíram sobre toneladas. E quando eu, G.H. até nas valises, eu, uma das pessoas, abri os olhos, estava - não sobre escombros pois até os escombros já haviam sido deglutidos pelas areias - estava numa planície tranqüila, quilômetros e quilômetros abaixo do que fora uma grande cidade. As coisas haviam voltado a ser o que eram.(CLARICE, 1998: 47)


É que eu não estava mais me vendo, estava era vendo. Toda uma civilizaçãoque se havia erguido,tendocomo garantia que se misture imediatamente o que se sente, toda uma civilização que tem como alicerce o salvar-se – pois eu estava em seus escombros. Dessa civilização só pode sair quem tem uma função especial a de sair : a um cientista é dada a licença, a um padre é dada a permissão. Mas não a uma mulher que nem sequer tem garantias de um título. E eu fugia, como mal-estar eu fugia.(Clarice, 1998 : 63)

O mundo independia de mim – esta era a confiança a que eu tinha chegado : o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! Nunca mais compreenderei o que eu disser. Pois como poderei dizer sem que a palavra mentisse por mim?Como poderei dizer senão timidamente assim: a vida. A vida se me é se me é, e eu entendo o que digo. E então adoro.(Lispector, 1998 : 174)





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