quinta-feira, 26 de agosto de 2010

LENDO LOLITA EM TEERÃ (AZIR NAFISI)

LENDO LOLITA EM TEERÃ(Azar Nafisi)

“Terra , para quem colocamos em todos os lugares os imensos espelhos, na esperança de que serão preenchidos
E assim permanecerão? Czeslaw Molosz, Annalena

“...não menospreze, sob qualquer circunstância, uma obra de ficção tentando transformá-la numa cópia fiel da vida real; o que procuramos na ficção é muito menos a realidade do que uma epifania da verdade.”

“ Suas ausências persistem como uma dor aguda que parece não ter justificativa física. Assim, é Teerã para mim: sua ausência é mais real do que sua presença”

“(...) usando as palavras de Humbert, o poeta/criminosos de Lolita,preciso que você, leitor, nos imagine, pois que não existimos se você não existir. Contra a tirania do tempo e da política, nos visualize de um jeito que nem nós mesmas ousaríamos: nos imagine em nossos momentos privados e secretos,naquilo que é mais comum em nossas vidas, ouvindo música, nos apaixonando, andando pelas ruas sombrias, ou lendo Lolita em Teerã. E então nos imagine com tudo isso confiscado, arrancando de nós.”

(...) quando me lembro de sua voz, percebo que nunca vivi de acordo com as expectativas dela(mãe). Nunca me tornei a dama que ela tentou me forçar a ser.”
“Pegando emprestadas as palavras de Nabokov, experimentávamos o modo como as pessoas comuns podiam transformar suas vidas em algo valioso por meio do olho mágico da ficção.”

“Você não entende o modo como eles pensam. Eles não aceitarão o seu pedido de demissão porque acreditam que você não tem o direito de sair.”

“Queria dar aula para um pequeno grupo de estudantes que se comprometessem com o estudo da literatura, estudantes que não tivessem sido escolhidos pelo governo, que não tivessem escolhido a literatura inglesa só porque não foram aceitos em outras disciplinas, ou porque pensaram que possuir um diploma em inglês seria bom para carreira deles.”

“Lecionar na República Islâmica,como qualquer outra vocação significa servilismo à política e submissão a regras arbitrárias. A alegria de ensinar sempre frustrada pelos subterfúgios e pelas imposições do regime – como ensinar quando a maior preocupação dos funcionários das universidades não era a qualidade do trabalho que se fazia, mas a cor dos lábios ou o potencial subversivo de uma única mecha de cabelo?”

“A realidade se tornou tão insuportável, ela respondeu, tão árida, que tudo que consigo pintar agora são as cores dos meus sonhos.”

“Manna era uma dessas pessoas que conseguiam sentir o êxtase, mas não a felicidade.”

“Não buscávamos uma solução fácil, mas tínhamos a esperança de encontrar um elo entre os espaços abertos que os romances ofereciam e os espaços em que estávamos confinadas. Lembro-me de ler para elas a afirmação de Nabokov de que “os leitores nasceram livres e devem permanecer livres.””

“A cor do chá e o aroma sutil são indicação do talento de quem o prepara.”

“Invitation to a Beheading começa com a notícia de que seu frágil herói, Cincinnatus C., foi condenado à morte pelo crime de torpeza gnóstica : em um lugar onde todos os cidadãos são obrigados a ser transparentes, ele é opaco.”

“Poshlust, Nabokov explica, “não é só obviamente inútil, mas, principalmente o falsamente importante, , o falsamente belo, o falsamente inteligente, o falsamente atraente.”

O que Nabokov capturou foi a textura da vida numa sociedade totalitária, onde se está completamente sozinho num mundo ilusório cheio de falsas promessas, onde não é mais possível diferenciar entre sue salvador e seu carrasco.”

“A cultura em que vivíamos negava o mérito das obras literárias, considerando-as importantes apenas quando eram criadas para algo aparentemente mais urgente – a ideologia.Esse era um país onde todos os gestos, mesmo o mais privativo, eram interpretados em termos políticos.”

“Nossa vida era governada por uma absurda ficcionalidade. Tentamos viver em espaços criados nas frestas entre aquela sala, que tornara nosso casulo protetor, e o mundo do censor, de bruxas e de demônios que ficava do lado de fora. Qual desses dois mundos era mais real, e a qual pertencíamos?”